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WE say FRATERNIDADE!

2020

Caríssimos Amigos,

Celebro hoje um dia especial e quero daqui expressar a minha enorme gratidão ao nosso BOM DEUS por mais um ano de vida com que me presenteia.

Hoje tenho o privilégio de partilhar convosco uma mensagem, uma reflexão de uma pessoa admirável, inigualável. Um ensinamento sobre a humanidade, a fraternidade, do meu bom AMIGO Sr. Padre Anselmo Borges.

Que, com alegria, nos deixemos contagiar pela bondade e sensibilidade das suas palavras!

"Em tempos de coronavírus...

A minha boa amiga Fátima Brízio pediu-me, com aquela gentileza própria dela, um textinho, no contexto da Covid-19. É com gosto que correspondo ao seu pedido:

  1. Pensávamos que somos omnipotentes. Afinal, de repente, fomos invadidos por um vírus invisível, perante o qual sentimos a nossa impotência toda. Precisamos de humildade. Somos frágeis. Todos. Era costume as pessoas, ao despedir-se, dizerem: "Até logo, até amanhã, se Deus quiser". É mesmo assim. Não somos senhores e donos plenos da nossa vida.

  2. É da ciência, e bem, que esperamos solução para esta hecatombe, através de medicamentos, de uma vacina. Mas também tomámos consciência de que a própria ciência sabe menos e tem menos certezas do que pensávamos. Precisamos de enfrentar com sabedoria o futuro incerto. A incerteza é uma dimensão invencível da nossa condição humana, falível.

  3. Com este vírus, tomamos igualmente consciência de que somos uma só Humanidade, dependemos uns dos outros. Podemos contagiar-nos uns aos outros. Mas também é verdade que, só ajudando-nos uns aos outros, nos salvamos e sobrevivemos. Ou nos salvamos todos ou nos afundamos juntos. Nunca a necessidade da solidariedade se impôs com tanta veemência.

  4. Talvez vivêssemos demasiado levianamente, desatentos em relação ao essencial, na vertigem da corrida em busca nem sabemos bem de quê. Precisamos de outra serenidade e de vigilância ativa na vida, até no sentido económico-financeiro: pensar mais no futuro, que é sempre — sabêmo-lo agora melhor — imprevisível. Ninguém nos faz um seguro que garanta que seremos felizes e nos liberte da incerteza. Mesmo um seguro de vida é, por paradoxal que pareça, sempre um seguro para quando morrermos: outros beneficiarão eventualmente dele.

  5. A propósito da morte, vivíamos como se fôssemos imortais e não queríamos pensar nela. A nossa sociedade foi mesmo a primeira na História que fez da morte um tabu: disso não se fala. Mas, agora, ela ronda, está aí, sempre enigmática e misteriosa, e obriga a pensar. Ela é o impensável que obriga a pensar e a viver ética e intensamente. Quando? Agora.

  6. Constato que, agora que já se pode sair um pouco mais para a rua, a quase totalidade das pessoas passeia sempre a “dedar” e a olhar para o telemóvel. E eu pergunto: Teremos de viver sempre no “exterior”? Não teremos nada no nosso interior, lá dentro de cada um de nós? Afinal, pensar é cada um, cada uma, falar consigo. E é lá no mais íntimo que mora Deus. E é preciso ouvir o silêncio e falar com Deus que fala no mais íntimo.

  7. Sairemos melhores desta hecatombe? Esse é o meu desejo e a minha esperança. Mas não tenho de modo nenhum a certeza de que aprendamos as lições e mudemos para melhor. Melhores? Melhores seria a solidariedade de todos com todos e com a Terra, que é a nossa casa comum e nossa mãe. Mas, na busca de um consumo sem fim — consumir mais e sempre mais —, quereremos continuar com um desenvolvimento que maltrata a natureza, como se ela fosse um mero reservatório de energias que devemos explorar até à exaustão, à espera de um novo vírus? Quando perceberemos que, num mundo limitado, não é possível um progresso ilimitado? Quando aprenderemos a viver com menos, com um estilo de vida mais convivencial e com mais moderação, sabendo que mais importante do que o ter é ser?

  8. E a Igreja? Percebemos agora melhor que a Igreja precisa, também ela, de uma profundíssima reforma, como quer o Papa Francisco. A Igreja não pode continuar a ser a Igreja do poder, dos cardeais, dos bispos, dos patriarcas, dos cónegos, dos padres. A Igreja são todos os batizados e, por isso, a Igreja tem de ser simples, fraterna, todos prestando, cada um e cada uma segundo os seus carismas e dons, serviços uns aos outros e a todos os que mais precisam, mesmo que não pertençam à Igreja. Como Jesus, que veio “para servir e não para ser servido” e que revelou, por palavras e obras, que Deus ama a todos. Ele é Pai-Mãe de todos. Nós somos todos irmãos. Haverá notícia mais felicitante do que esta, a mensagem de Jesus, que é o Evangelho? Nele, temos a promessa da vida eterna plena em Deus, que nem na morte nos abandona.

  9. Lembro-me de alguém em especial nestes dias? De tanta gente. Mas quero lembrar de modo especial os médicos, enfermeiros, o pessoal de saúde, que expõe a sua saúde e até a sua vida, para cuidar dos que mais precisam de ajuda imediata. Eles são “os santos da porta ao lado”, como diz o Papa Francisco. Lembro todos aqueles e aquelas que morreram, vítimas desta tragédia, e a família nem sequer pôde despedir-se com um adeus, com uma carícia. Uma dor sem fundo e sem conta. Lembro todos aqueles e aquelas que, com os transportes, os supermercados, a agricultura, as limpezas, os bancos, as padarias, a segurança, os correios — eu sei lá que mais... —, permitem que o país continue a funcionar. Lembro todos os que, dos modos mais variados, numa imensa e inventiva criatividade, estão presentes aos que mais sofrem, aliviando solidões que matam. Lembro, morrendo-se-me as palavras, aquela menina na fila para receber uma malga de sopa. Lembro todos aqueles e aquelas que não se cansam de solicitar e prestar apoios para que a fome devastadora, já presente e que vai aumentar, não torne ainda mais cruel o sofrimento de tantos. Lembro com emoção todos quantos lerem estas palavras breves e simples. Saibam que todos os dias rezo por vós. Com afecto."

Anselmo Borges. Padre. Professor da Universidade de Coimbra e da Universidade de Porto. O seu livro mais recente: "Conversas com Anselmo Borges. A Vida, as Religiões, Deus".

Um XIIIIIIII coração virtual! Fátima C. Brízio

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